21/02/2010

Sir Bobby Robson - Eterna Referência

Manuel: ... Julgo que não precisamos de tê-lo conhecido para sobre ele emitir julgamentos ou sequer, sentir. Não haverá ninguém no mundo do Futebol que não sentisse o Sir Bobby Robson como um ser perfeitamente nobre, sabedor, bom, ao mesmo tempo grave, sério nos métodos e na postura, dono de uma coluna vertebral intacta mas, ao mesmo tempo imensamente charmoso e até bem disposto, um "gentleman" portanto, como era frequente qualificá-lo ... nós como observadores, adeptos, pressentimos sobre ele tudo aquilo que enunciei mas, mesmo que dúvidas houvessem pois bem bastaria tomar em consideração o que dele dizem Mourinho, Bobby Charlton, Gary Lineker, os milhares de atletas que pelas suas mãos passaram e, todos quantos tiveram oportunidade de com ele trabalhar e de com ele aprender.
Sir Bobby Robson, julgo, tratava-se de uma espécie em vias de extinção. Um Treinador da escola antiga, um Treinador com "T" grande, que trei - na - va de facto. Treinava, ensinava, fazia melhorar, formava, até em termos de personalidade, de carácter, na forma de abordar o jogo, na relação com o público, com os fãs e, hoje em dia tudo isso está esquecido. É mais fácil ir-se ao mercado e pagar por aquele que "pega de estaca" do que ter a paciência de esperar, treinar, ajudar: um qualquer jogador que se afigure muito bom mas que precise de tempo, disciplina e carinho, para "lá" chegar.
Ainda no Robson e sem qualquer pejo em qualificar o meu Sporting nesta matéria como uma nódoa, uma vergonha, um vexame, um comportamento deplorável de um Clube que permitiu infligir ao Bobby Robson o único despedimento da sua carreira: A falta de tino, de senso e de capacidade de avaliação nesses tempos, nessas décadas, no Sporting, tinha tanto de nítida como de fatídica, parecia. Foi precisamente isso - em décadas onde em Alvalade se cumpria a quase obrigatória meta de 3 treinadores por época - que deu ao Sporting uma fama terrível Europa fora, no que aos Treinadores dízia respeito. E relacionando tal com o Robson em particular, a pequenez aumenta quando o Sporting nem tem a ombreidade de dizer-lhe porque o despedia, com a franqueza (que ele devolvia sempre): na verdade o Clube queria agarrar o - na altura - prestigiadissimo Professor Queirós que, díziam, estava a um passo de ingressar nas Antas uma vez saído da Federação.
O Sporting permitiu-se escudar numa derrota contra os austríacos de Salsburgo para despedir Sir Bobby que estava muito perto da liderança do campeonato, havia anos antes levado a Selecção Inglesa a uma performance incrível no Itália 90 e, ainda alguns anos antes ... havia com o Ipswich vencido uma Taça Uefa e uma Taça de Inglaterra.
É uma mancha na história do Clube, do Sporting. Só.
E não na carreira do Robson.
Deixa-me só dizer-te uma coisa mais: parte grande do amor que sinto pelos magpies deve-se claro ao Robson. O nome Robson estará para sempre ligado ao Newcastle e, não é difícil de imaginar que St. James Park estará desde ontem de luto. O Robson - geordie de corpo e alma - certa vez chegou a afirmar que se lhe fizessem um corte nas veias o sangue saíria preto e branco - tal o sentimento para com o Clube - o mesmo Robson que em meras 4 semanas angariou nas imediações do St. James Park meio milhão de libras, junto dos adeptos, para fins de caridade. Só uma alma que de facto tocava as pessoas conseguiria fazê-lo. A sua ligação às pessoas era constituída por laços fortíssimos, ligação por exemplo demonstrada quando sem nada para isso contribuir, coloca involuntariamente todo um plantel "contra" o Professor Queirós, precisamente por esse mesmo plantel ter criado com o seu antigo Treinador uma relação incrível.
Mesmo entre os adeptos: poucos na altura entenderam o motivo que levava o Sporting a de uma assentada despedir Robson e Manuel Fernandes e, penso que nenhum sportinguista - embora esperançoso nos métodos do Professor Queirós - na altura, não tenha sentido alguma dose de raiva e desgosto pelo clube. Fora isso - e isso que não é mancha no Robson mas sim no Sporting - pois de facto ele fez tudo no Futebol.
Tudo. Enquanto jogador e enquanto Treinador.
É portanto imortal. Sê-lo-á sempre.

Miguel: Há tanta coisa para dizer que nem sei por onde começar. Soube hoje que tem uma estátua em Ipswich pelo que deu ao Ipswich Town na década de 80. Como homem, enfim, é o que se sabe.
Simpático, afável, divertido, bem disposto. Toda a gente que com ele privou diz isso e, nem é preciso privar com ele, basta ver as imagens de treinos, as conferências de imprensa, as entrevistas. Humor britânico bem vincado. Inteligente, acolhedor, bom.
Li que quando o Porto saiu de Barcelona com 3-0 em 94, na viagem de regresso a Portugal, Robson virou-se para o Inácio - cabisbaixo e desolado - e disse: "Levanta a cabeça, Inácio. O futebol é isto, amanhã o sol nascerá de novo e irá trazer-nos muitas alegrias". Isto parece simples mas aposto que eram precisamente estas palavras que o Inácio precisava de ouvir naquele momento e, aposto também que funcionou na recuperação psicológica, mas sobretudo espiritual, do Inácio.
Como técnico era sofisticado a nível de mentalidade mas, tinha uma ideia muito solidificada quanto ao sistema de jogo que era sempre o mesmo, tanto na Selecção Inglesa, PSV, Sporting, Porto, Barcelona, etc. Estamos sem dúvida a falar de uma das maiores figuras do futebol das últimas três décadas, sobretudo, mas sem dúvida também de sempre. Li também que de facto não ficou com a melhor das imagens do Sporting, que ainda há não muitos anos um elemento da estrutura dirigente sportinguista falou com ele, identificou-se como sendo do Sporting e a reacção de Robson foi: "Vocês despediram-me!" O Bettencourt fala em "precipitação" mas, Robson merecia um respeito suficiente para impedir a possibilidade de precipitações. Ou seja, um respeito quase absoluto. É uma mancha para ele, para o seu percurso, a única mancha, e ele nunca engoliu isso.
É difícil engolir qualquer mancha, mas ter uma, apenas uma, dói mais. Penso que foi por isto que lhe custou mais. Teve um percurso impecável e no Sporting foi despedido. Não se demitiu, demitiram-no, prescindiram dos seus serviços.
Isso doeu-lhe muito.
Robson foi qualificado e muito bem de "lufada de ar fresco no futebol português".
Foi-o, sem dúvida.
É uma honra para este futebol podre tê-lo tido a treinar cá. Compreendia que no futebol português havia certos jogos de comportamentos, compreendia a necessidade de o Porto entrar nesse jogo, mas não gostava. E não gostava porque a sua visão do futebol era uma visão pura, sem qualquer tipo de sujidades ou "manhoseiras". O futebol era a vida dele, como ele próprio confessou e como notaram os que com ele trabalharam. O futebol português moderno teve gente de qualidade mas, muito poucos elementos desse mesmo futebol português estão no mesmo campeonato que o Robson em termos de categoria e classe. Nunca teve problemas em enfrentar as "estrelas" das equipas por onde passou enquanto treinador e respectivos egos. Mas enfrentava-as/os com alegria, com humor. Ensinava, educava, corrigia, mas com humor e alegria. Era a sua maneira de ser, e não haverá/terá havido ser humano algum que tenha reagido a essa maneira de ser, a esses sorrisos, a esse humor e a essa alegria de outra forma que não com um sorriso.
"Muito poucos elementos desse mesmo futebol português" está mal.
Não foram muito poucos, foi nenhum. Nenhum elemento do futebol português moderno teve a classe e categoria que Robson espalhou por todo o lado por onde passou. Assim é que está bem.

22/01/2010

Rocky - Sylvester Stallone

Manuel: A minha pessoal homenagem a duas coisas: a um dos melhores filmes de sempre e a uma das mais belas e únicas soundtracks de sempre creio, caso vejam a coisa toda e dado que sei que pelo menos vocês dois, tal como eu, transportam toda a fábula presente em todos os filmes da série num cantinho muito especial do coração e, assim sendo, são dela exímios conhecedores - de trás para a frente e da frente para trás - podem verificar que deixei para o fim duas cenas que para mim simbolizam a melhor coisa que a fábula tem: a história de amor ...
Exceptuando o Rocky IV, cujas cenas no combate final por si só, separadas de tudo o resto são uma autêntica obra de arte jamais reproduzível por qualquer outro filme e que portanto mesmo separadas de tudo o que é Rocky são em si, uma coisa fenomenal ... tirando isso ... de tudo o que é do universo "Rocky", para mim, a verdadeira essência dos filmes são as duas coisas que essas duas cenas finais (finais no vídeo que fiz e não no filme claro) demonstram:
A história de amor dentro e ao longo do filme.
E aquela que é a mais poderosa arma e qualidade do Rocky: a capacidade de amar.
Dar, necessidade de oferecer, proteger, cuidar.
Fosse da Adrian, do Mickey, do Paulie, das tartarugas ou da Marie.
Que coisa mais bonita. Bill Conti claro.
Ps: Qual é a vossa mais preferida cena de todos os Rockys?
E qual é para vocês a mais bonita música - seja de orquestra como as do Bill Conti ou outras quaisquer - que encontram em todos os Rockys?
A minha é uma cena de pouco menos de três minutos, e a música, também ela é muito muito curta. Vou com ambas fazer um vídeo e, com isso, no meu espírito, exultá-las.
As vossas, quais são? Ok ok pronto. Ivan Dracara.

Miguel:
Ui... Foste falar de Rocky e agora sinto-me obrigado a dizer milhentas coisas, lol.
Vou tentar ser sucinto...
Melhor cena: a luta entre o Rocky e o Drago no IV, a partir daquele murro que pôs o Ivan a sangrar e significou a viragem da tendência da contenda (não a favor do Rocky, mas no sentido de pôr fim ao domínio completo e esmagador do russo). A música que acompanha essa parte da música, que se prolonga até ao fim do penúltimo round, é gloriosa. O que acontece visual e sonoramente nessa cena de luta é provavelmente o melhor hino que pode haver àquilo que significa a competição e a luta. Não consigo descrever por palavras. Quem não viu isso devia ver, e quem, tendo visto, não se sente no mínimo empolgado, perde um grande momento cinematográfico. Mais cenas: todas as cenas de treino. A música que as acompanha é do mais belo que alguma vez ouvi e certamente ouvirei na minha vida. Belo porque inspirador, porque épico, porque esperançoso, porque forte. Representam também, essas cenas, o tal espírito de competição de que falei. Superação e competição. Ou competitividade. Se bem que no IV a cena de treino tenha uma música típica dos anos 80 e não essa (músicas dos anos 80, músicas dos anos 80... um mundo à parte, um mundo mágico) e não a outra. A cena final do Rocky II, filme que acaba - depois de uma luta absolutamente épica - com a cara do Stallone a transmitir-nos duas coisas: a exaustão quase completa decorrente desse combate e a satisfação solene e final pela vitória arrancada através desse mesmo esforço hercúleo e épico. No primeiro Rocky o filme termina de forma idêntica, e o Stallone chamou à cena final desse "o momento único na vida em que se atinge a felicidade absoluta". Referia-se à perfeição da felicidade do momento. Agarrado ao amor da sua vida, depois de uma demonstração de coragem - perante o adversário e perante toda a sua vida e dificuldades que esta lhe impunha (e continuaria a impor).
A série tem a beleza típica dos anos 70, os anos 70 das histórias do nascimento e ascensão de grandes figuras, histórias pessoais de coragem, determinação e finalmente vitória, e consegue transpor-se para os maravilhosos anos 80, com a atmosfera típica dessa época, a todos os níveis (visual, musical, comportamental), o que a mim pessoalmente me agrada sobremaneira. O V já é de 90, mas ainda se integra, pelas suas características, nos anos 80.
Sobre o último Rocky, o 6, também haveria muito a dizer.
E a recordação do diálogo do Mickey com o Rocky no Rocky V e respectiva reacção do Rocky a essa recordação... Enfim. Não há muito a dizer, tem que se ver e pronto. Quem não viu e absorveu os Rocky perde uma das melhores representações de algumas das coisas que são do que melhor há no ser humano e na vida: o espírito, a vontade, o choque do um contra um, o combate e a preparação para esse combate, com os que nos amam do nosso lado. Os filmes Rocky repetem, na sua estrutura, quase sempre a mesma fórmula, em termos de ordem de acontecimentos, mas nunca perdem qualidade, nunca cansam. É impossível cansar, para quem aprecia aquilo.

Manuel:
"Nature is smarter than people think". Miguel, também para mim essa é a mais bonita sequência/cena de todos os Rockys. De longe. Momento único, mágico, que se aloja e faz chorar. Ou fez, confesso que há pelo menos dois anos que não (re)vejo os Rockys. Acho a Talia Shire lindíssima no(s) fime(s) em que entrou da série, o Mickey único, belo, ímpar, uma jóia, e o Paulie também, mas numa escala menor, comparado com o Mickey. É muito complicado falar-se de coisas que se ama muito muito muito. E o Rocky é uma dessas. É como se fosse uma coisa só nossa, só mesmo nossa, que só nós a compreendemos, que só nós damos valor, que só nós sabemos ler e ver o que ía na cabeça do Stallone quando escreveu tudo aquilo. Sim, porque foi ele o autor de tudo aquilo, em matéria de argumentos e produção de quase todos eles.
É mais do que um filme de luta.
É mais do que uma coisa física. É do domínio do meta-físico acredito.
Excede a matéria, ou seja, é sentimental. Porque foi feito com amor, creio.
Do mesmo amor que o Rocky sente pela Adrian, ou pelo Mickey, ou o Mickey por ele, ou nós pelo Rocky, é amor pronto. «And if you ever get hurt and you feel that you're going down, this little angel is gonna whisper in your ear.»
Em homenagem à segunda oportunidade que o Rocky deu ao Mickey de poder prepará-lo para o combate, embora estivesse com ele desgostoso (Rocky com o Mickey) - queria também dizer que amo o Pedro Barbosa. Vivam os alas inteligentes, capazes, tecnicistas, que não precisam de correrias de quarenta metros para fazer o trabalho bem feito. Viva o Capucho, o Pedro Barbosa, o Drulovic, o Luc Nillis, o Stoichkov e o Laudrup.
Viva o Rocky, e viva 1976, e viva 1979.
E viva o Robert de Niro, que perdeu precisamente para o Rocky o óscar de melhor argumento original, com o Taxi Driver. Vivam os EUA que permitiram que um tipo absolutamente genial, amável, cheio de qualidades como o Stallone, mas que sem grandes especiais estudos ou preparação deixasse ao mundo chegar a sua obra, o seu Rocky, a sua feitura, mesmo após filmes pornográficos, alguma fome e muita solidão. Aqui está Miguel, aquela que é para mim a melhor, mais profunda, mais tocante sequência de todos os Rocky´s. Um hino à beleza. Foi um real prazer, ter feito esse vídeo.

Miguel:
Sobre o Rocky havia mais coisas a dizer da minha parte. Sobre o Stallone há muitas outras coisas a apontar também, ainda. Para além dos Rocky, fez coisas também elas maravilhosas nos anos 80 e algumas engraçadas nos 90. E procura, hoje em dia, com a idade que tem, reviver as suas obras do passado e continuar a criar arte. É que ele não é só actor, como sabem. Produziu, escreveu e realizou uma boa parte dos seus filmes. Está actualmente a preparar um chamado The Expendables, que pretende ser um clash de ícones de acção, tudo misturado, tanto como homenagem a nomes imortais do cinema/espectáculo como como tentativa de reavivar esses tempos gloriosos de outrora.
Esta banda sonora é magnífica. Esta "Overture" do Bill Conti é do melhor de sempre.
Dos primeiros dois, é esta e, claro, a "Gonna Fly Now". Do IV há várias também, mas já dentro de outro estilo. A tal da luta soberba Rocky versus Drago é a "War". Épico, épico, lindo.
Não consigo parar de pensar nisto e falar nisto aqui, agora. Essa que aparece aos 4:55 é muito, muito especial. É lindo. Mas consigo gostar ainda mais da parte que aparece aos 5:31 do teu vídeo, mas com a música que aparece no II. Ou seja, essa parte que referi dos 5:31 mas tal como aparece no (início do) Rocky II. E isso leva-me a isto: há uma coisa que acho absolutamente brilhante.
Nos Rocky, cada filme começa com as imagens finais do filme anterior, e no caso da transição Rocky II - Rocky III, a transição é feita dos anos 70 para os 80. Quando o filme faz o close up da cara do Rocky no Rocky II e começa a tocar a "Eye of the Tiger", sinto que essa transição foi feita de forma genial e perfeita. Dos anos 70 para os 80.
Não sei se me entendem. Nem eu próprio me entendo muito bem.
E depois surgem as imagens do Clubber Lang a treinar sozinho intercaladas com o sucesso total do Rocky a nível de reconhecimento público. E já viram que o Rocky no Rocky II pura e simplesmente não se consegue adaptar à vida "de sucesso" e no III consegue?
Adapta-se, instrui-se, aprende a agradar ao público e a ser querido pelas massas, tira daí dividendos, o que lhe viria a custar caro em termos de potência como lutador, situação que mais tarde, na também épica luta final contra o Clubber Lang, e antes, durante o treino e superação decorrente daquele diálogo emocionante com a Adrian, viria a inverter. E o salto que dá no final da contagem do combate da vitória no Rocky III... Enfim, é lindo.
"No, listen, he's just a man. You can beat him because you're a tank. You're a greasy, fast, Italian tank. Go through him! Run over him!"

Ainda Miguel:
Taxi Driver, Taxi Driver, que grande filme...
Deixem-me dizer isto: tenho bastante pena da falta deste tipo de referências que se encontra bem patente nos jovens de hoje. O Rocky é um exemplo disso. Um miúdo de aí uns 15 anos, hoje em dia, quando ouve o nome "Stallone", ou não o conhece, ou diz "ah é aquele tipo com a boca torta que fez uns filmezitos há muito tempo e foi considerado o pior actor não sei quando por ter entrado nuns filmes ridículos. Pois... Eu gosto é de Senhor dos Anéis, pá. Muita CGI, muitos efeitos. Agora Stallones... Isso é pré-histórico, pá. E também gosto do Chelsea. É a equipa da moda. Quero lá saber de Bayerns, de Milagres de Berna, de Charltons. Isso a mim não me diz nada". Lol percebem? Falta de referências... e falta de respeito para com a história. E o próprio Stallone aponta para isso no Rocky VI, ele próprio alerta para isso. A cara de desgosto e desconforto dele depois de ouvir a opinião de um tipo na TV sobre a carreira dele, no filme, é muito expressiva.
Esses filmes porno do Stallone... são um bom exemplo de como se tem que começar por algum lado. As grandes figuras de hoje tiveram que nascer nalgum lado. Depois do sucesso do Rocky editaram o tal filme pornográfico de forma a tornar-se apenas um filme erótico, deixando de ser hardcore. No DVD do Rocky tem lá um documentário óptimo sobre o Rocky, no qual, entre muitas outras coisas, o Stallone contou que o cão é mesmo dele, e chama-se mesmo Butkus - "Yo Butkus!" - e que no dia de estreia do filme se sentou numa sala de cinema e pelas reacções - ou falta delas - do público pensou que tinha sido um desastre e tinha acabado ali a sua carreira no cinema (apontou para o facto de ninguém se ter rido quando era suposto, para ele, rirem-se, etc.). Quando saiu da sala de cinema e desceu umas escadas, tinha à sua espera uma multidão que começou a aplaudi-lo, porque o filme era magnífico. Calcula-se que terá sido um momento mágico para ele. Não se riram porque... o Rocky não tem muito que rir. É uma história demasiado dramática para gerar risos. O personagem Rocky pode por vezes ser cómico mas no meio daquele drama, daquela casa pequena, daquela solidão, daquele bairro, daquela sujidade, daquele "não ser ninguém", ninguém consegue rir-se com vontade. E o II segue nessa toada.
Ainda dentro do universo Stallone, sem sair dele, há outra série que é, para mim, obrigatória. Evidentemente quem tiver aí uns 15 anos lê o que eu vou dizer e ri-se, porque estas referências tornaram-se ao longo dos anos motivo de chacota. Mas o nome que vos quero deixar, não com o mesmo valor do Rocky, mas quase, é: Rambo. Sim, porque a série Rambo não é só um tipo a fazer explodir russos e a metralhar que nem um louco durante hora e meia. Quem viu o Rambo, o primeiro, o First Blood, até ao fim, vê que se trata de muito mais do que apenas isso (isso - a acção - acaba por complementar o filme, para quem gosta de filmes de acção dos anos 80, como é o meu caso, dado que cresci a vê-los e a imitá-los).
Reconheço que o II e o III têm muito menos conteúdo artístico/dramático, perderam alguma qualidade em relação ao I, por isso foquemo-nos no I. A história. Os olhos tristes do Rambo. O sentimento de injustiça que partilhamos com ele durante todo o filme e que culmina no final com um clímax cuja interpretação só está ao alcance de um enorme actor. Rambo, a máquina da justiça. Matreiro, imbatível, perfeito no combate, uma máquina de guerra que só deseja paz. A maneira como se distancia da sociedade moderna e se aproxima das culturas orientais. A vulnerabilidade escondida atrás da dura máscara de pedra. Até no Rambo IV, o último e recente, no meio de um banho de sangue (há uma média de mais de uma morte por cada 30 segundos de filme) e violência levada ao extremo, até nesse há coisas de valor a retirar. Até porque a violência é lá colocada por existir, realmente, e sendo aquilo verdadeiro, revoltante e dramático, ganha seriedade e com isso valor. Aquelas coisas passam-se mesmo, e o Stallone "usou" o Rambo para denunciar isso. O Rambo surge, portanto, como a resposta do bem às atrocidades que o mal teima em cometer.

Miguel, ainda sobre o Rocky:
É emocionante. É lindo. Traduz na perfeição aquilo que é o amor de um ente para com outro ente. O cuidado, o altruísmo puro e total, a dedicação total a um ser humano. Representa a razão pela qual o Rocky Balboa se levantou sempre, mesmo quando as pernas já lhe pediam que parasse e ficasse estatelado no chão. A força do amor produz coragem, e a coragem produz conquista.

It represents love, but an inconditional, true and absolutely devoted one. The only true love, that is. This is the foundation of human conquest, the reason why Rocky, in this series, and man, as a whole, achieve a level of greatness that brings immortality to their characters. The reason why Rocky kept getting up even after his legs begged him to stop and stay down. Not for survival, in this case, but, unconsciously or not, to prove that one is capable of the greatest when pushed forward by the strenght of love, of good, by the feeling of protection, towards others and as a retribution of that feeling that others have for us.
This is the quintessential human moment that leads one to the ultimate victory of the human spirit against all obstacles, against all negativism and sometimes against all odds.

This is the visual representation of the word "care". To care for another entity and do whatever it takes, within our capability or not, to make it shine as stars do, giving live and warmth to all that exists around them. To do it not because its an obligation, but because it is an automatic and inevitable response to the fiery, glowing feeling of love that unites people who love each other and care for each other. This is what it means to be capable of depriving ourselves of our own individual, self-oriented existences and giving that very existence sense and a purpose to exist. The purpose to exist is to love each other.

Robert Enke - E uma das miseráveis facetas do mais reles benfiquismo

(A propósito de Robert Enke e na sequência das críticas vindas de um benfiquista (quem mais?) relativamente à "leveza" com que se levou o assunto da sua morte num outro local da internet: será talvez útil deixar aqui a(s) defesa(s) resultante(s) dessa crítica ... porque, não se trata de leveza mas sim de equilíbrio ... a serenidade que não fere o respeito. Vejamos então):
Por um elemento não-pertencente a este blog:
"Pela minha balança de humanidade valho tanto como tu e valho tanto quanto valia o Enke. Não sei se o problema é estarmos a falar do Enke enquanto ex-guarda-redes benfiquista ou ex-qualquer coisa. Mais tarde ou mais cedo aparece sempre algum gnu maquiavélico como eu a fazer piadas sobre mortos. O problema é que eu nem sequer condeno o suicídio, e apostaria o meu nick - caso já não o tivesse feito já, e perdido - que ninguém aqui conhecia o Enke-homem.
Toda a gente conhecia o Enke-personagem e não foi para o homem que lhe criei as piadas. Não poderia porque não conheço. Garanto-te que um minuto depois de escrever piadas sobre o Enke já alguém se tinha rido com as mesmas. Garanto-te isto com a mesma certeza que seria muito positivo para ti e para todos os que condenam as piadas sobre Enkes que soubessem relativizar as suas próprias vidas e as suas próprias mortes.
O respeito e o civismo devem ser praticados diariamente junto de e para com outros seres-humanos enquanto cá andamos. O respeito absurdo por símbolos só nos desumaniza. A verdade só tem um caminho. Eu e tu iremos parar ao mesmo sítio que o Enke foi parar e não, não me refiro à linha de comboio: todos iremos morrer. Eu posso morrer antes de tu leres este post. É uma possibilidade. Como te sentirias tu depois das tuas últimas palavras para o eu-personagem fossem as que foram:
"Tu não vales nada"?
Irias sentir-te bem pior com a minha morte do que com a morte com o Enke. Porque dentro do teu imaginário miserável, eu tenho mais importância para ti do que o Enke. Tu interagiste comigo, tu conheces-me melhor do que conheces o Enke, que, no máximo dos máximos a única coisa que ele fez por ti antes de partir foi dar-te uma camisola suada. O Enke deu-te esta atenção? Deu-te palavras? No máximo deu-te umas alegrias por ter feito com que umas bolas disparadas pelos pés de jogadores de futebol não tocassem as malhas das balizas benfiquistas. O que mais me chateia no meio disto tudo é que tenhas dito "meu deus" sem sequer te dares ao trabalho e ao respeito de usar a letra maiúscula na palavra Deus. Pior do que isto é não parares para pensar porque é que eu não fui imediatamente banido depois de ter escrito as piadas que tanto te importunaram.
Não achas que os administradores me deviam ter banido imediatamente?

Miguel:
Clap clap. Concordo plenamente. Tu, Diogo, serias provavelmente um daqueles que vivendo nos arredores de Hannover (ou não) irias encher o estádio para "homenagear" o
ex-futebolista. A sociedade de hoje é tão ridiculamente baixa e influenciável que se
presta a encher estádios de futebol para "homenagear" uma pessoa unicamente pelo
facto de ter sido famosa, deixando vazios os "estádios" de todas as outras pessoas que nunca chegaram a ser famosas. Não que eu ache que se deva encher esses "estádios". Acho é que não se deve encher os dos famosos por serem isso mesmo: famosos. Foi o mesmo com Fehér, com Puerta e com outros. Evidentemente é de lamentar mas, faça-se a ressalva de que se tratam de seres humanos, cuja actividade profissional (ou outra coisa qualquer) que os tornou famosos junto do grande público não deveria servir como pretexto para que se lhe atribua maior ou menor valor. Para além de que tudo isto pode ser, na realidade, considerado uma falta de respeito para com a pessoa que morreu. Não sei até que ponto a esposa do Enke e os seus familiares e amigos apreciam a ideia de ter 20.000 nerds a fazer vídeos sobre ele, como se de repente se tivesse tornado um santo, no YouTube, ou a de ter 20.000 nerds com o seu nome no MSN e uma mensagem a ele dedicada, como se isso de alguma forma os aproximasse da pessoa ou do tema em causa, para fazerem de algum modo parte desta grande onda de solidariedade que irão esquecer quando aparecer outra coisa nova, ou quando estiverem a dar os Morangos.
É que ainda por cima o Enke não era dado a protagonismos na comunicação social e gostava de se proteger disso. E associar a ele qualquer tipo de benfiquismo nesta hora, isso então seria (ou é) passar mesmo os limites da idiotice e da labreguice.
Enke morreu, deixem-no em paz. Era o que ele queria. Para ele terá sido um alívio. No máximo recordem as grandes defesas que fez ao serviço do vosso clube de merda e de outros, porque é a única coisa que podem recordar. Porque do homem Robert Enke, disso nada sabem, nunca privaram com ele, não existe entre vós e ele qualquer tipo de relação. Isto é que é ser equilibrado e justo.
E como do homem nada posso afirmar excepto o pouco que transparecia ou o que dava para adivinhar nos relvados e nos treinos (excelente profissional e homem sério e trabalhador), recordo a segurança que emprestava a toda a equipa como guarda-redes. Foi uma espécie de surpresa quando Heynckes o foi buscar ao Mönchengladbach mas, rápida e naturalmente impôs-se fazendo esquecer quase totalmente Preud'Homme no benfica. Lembro-me de o desejar para a baliza do Porto em várias alturas. Não se impôs em Barcelona e prosseguiu a sua carreira na Turquia até voltar à Alemanha. Aí, solidificou a sua presença na Mannschaft e vaticinavam-se-lhe vários anos como dono das redes alemãs, como digno sucessor de Köpke, Kahn ou Lehmann.
Era um óptimo guarda-redes, cujo metódico trabalho e vontade de melhorar lhe conferiam o extra que separa os "quase bons" dos "bons".

21/01/2010

História do Futebol - Alguns clubes, alguns nomes e algumas ideias sobre o estado actual do Futebol

Tonel: (Sobre as diferenças entre o espectáculo futebolístico dos anos 90 e o do Século XXI) ... não precisas de ir ao Laudrup e ao Romário, ao Hierro, ao Bebeto, ao Dunga, ao Guardiola, ao Ronald Koeman, ao Rijkaard, ao Van Basten dois anos antes, não precisamos de ir ao início da década de 90, até porque dessas apenas guardo vagas recordações ... já tudo o que é de 1993 para cá posso falar-te como se fosse ontem. Queres comparar por exemplo os teus benficas desta década que está quase a terminar com o benfica de 91, 92 ou 93? Neno, Veloso com a braçadeira, um Mozer, um Ricardo Gomes - internacionais brasileiros e esses sim da mais fina flor - que não se comparam com os centrais brasileiros de hoje. Paneira, Isaías, Schwarz, João Vieira Pinto, César Brito, Rui Águas - que metia os Suazos e os Cardozos num canto em termos de categoria individual, - e tinhas o Rui Costa. Tinha-los todos, numa equipa só. (Dirigido a elementos benfiquistas externos ao blog). E nem foi um ano excepcional esse. Um Sporting que em 1994 tinha uma equipa que nesse ano estava destinada a ganhar tudo. Deixa-se eliminar pelos Austríacos nos quartos de final da Uefa quando tinha dois golos de vantagem na eliminatória - austríacos esses que acabaram por ganhar essa Taça Uefa. Stan Valckx e Naybet como centrais, Figo, Paulo Sousa, Balakov, Capucho, Amunike, Sá Pinto, o eterno e imortal capitão Oceano ... queres comparar isso com o Sporting de hoje? O Porto tinha um Baía, um Fernando Couto, um Jorge Costa, um João Pinto - equivalente ao teu Veloso - um Timofte, um Domingos, um Jaime Magalhães, um Rui Filipe, ou um extraordinário e magnifico - para mim foi dos melhores de sempre - que dava pelo nome de: Kostadinov. Todos esses andavam por cá e, era normal na altura. Nem há comparação com a pobreza que é hoje. E este exercício comparativo podemos fazê-lo ao nível de Clubes europeus ou Selecções que, as conclusões são as mesmas.
Não podem ser outras.

Miguel:
Isso é totalmente verdade e já falámos disso a dois montes de vezes.
O futebol, tal como muitas outras áreas, perdeu a magia que nos faz hoje recordar com saudade coisas dos anos 80 e 90. Contudo, também creio que recordamos mais as eras dos anos 90, no nosso caso, teu e meu, porque foi com esses anos que coincidiu a nossa infância/adolescência, que é o período em que a nossa cabeça e o nosso espírito mais magia consegue retirar das coisas. Mas também duvido muito que o (benfiquista também presente na discussão), por exemplo, veja com a mesma magia as finais de hoje, os filmes de hoje, os melhores jogadores de hoje, os derbys de hoje, etc etc ... com a mesma magia com que nós víamos as do "nosso tempo".
O 5-3 do Sporting ao benfica do ano passado foi um resultado muito próximo do 3-6 mítico, mas alguém consegue comparar? No tal 3-6 houve uma magia que fez com que ainda hoje seja recordado. O 5-3 do ano passado foi um resultado volumoso, cheio de golos, num derby, e nada mais. Os 7-1 do Manuel Fernandes ficaram para sempre, os 7-1 / 5-0 do Bayern - Sporting não ficarão, só ficarão na cabeça dos benfiquistas reles que vão ter sempre essa arma de arremesso à mão para encobrir as próprias vergonhas.
A Taça de Viena em 87 foi mítica.
A Taça UEFA de 2003 e a Liga de 2004 também ficam na história, mas não sei, não é a mesma coisa ...
Ainda ontem se falou na fabulosa equipa do benfica de 1993. É incrível, ou nem por isso, que essa equipa ficou na memória e perdura ainda hoje. Mas é mesmo verdade, era uma equipa brutal, e a do ano seguinte, do título do Toni, ainda era bastante boa. Nunca mais, até hoje, e provavelmente até sempre, o benfica voltou a formar uma equipa que me inspire o mínimo de respeito, sequer.
E concordo que as últimas grandes competições, finais e equipas terminaram aproximadamente no final do século. O Euro 2000 foi brilhante, o Bayern e o Manchester dessa altura eram brilhantes.
Já o Mundial 2002 foi paupérrimo, o Euro 2004 não teve a magia de antes.
O Milan, o Chelsea, o Inter recentes, tudo isso são equipas que jogam muito pouco.
O futebol está fraquinho, é verdade.
Eu extendo a magia da primeira metade dos anos 90 (o benfica do Futre, Rui Costa, Schwarz, João Pinto, Paulo Sousa, William, Rui Águas e o Porto do Kostadinov, Domingos, Fernando Couto, Baía, João Pinto) à segunda metade.
Quem não viu o Jardel marcar a quantidade absurda de golos que marcou, com a facilidade e eficácia bela com que o fazia, os passes do Drulovic de letra (esse sim era eficaz no passe de letra, mais que o Quaresma), o Zahovic, o Artur, o Fernandes Mendes, o Capucho, o Jorge Costa, o Aloísio, o Sérgio Conceição, o Doriva, etc ... quem não viu o Porto ganhar em Milão ou 5-0 no galinheiro, quem não viu o magnífico Euro 96, o bom Mundial 98, a grande Juventus do Ravanelli, Vialli, Del Piero, Di Livio, Deschamps, Peruzzi ou, o excelente Dortmund do Möller, Kohler, Ricken, o grande Bayern (demasiados jogadores para estar a enunciar), o grande Manchester, a final de 99, o demolidor Real Madrid do Raul e companhia, o fabuloso Barcelona do Robson (Baía, Ronaldo, Giovanni, Figo, Luis Enrique, Ferrer, Sergi, Nadal, Guardiola) e posteriormente do Rivaldo e dos holandeses, não pode dizer que viu futebol.

Ainda Miguel:
Vejamos as competições do novo milénio ...
Mundial 2002, já o disse, foi paupérrimo. As melhores equipas ficaram pela fase de grupos, um dos organizadores foi escandalosamente beneficiado para chegar longe, o que alterou desde logo o espírito e a veracidade da competição, a Alemanha bastante fraca chegou à final, o Kahn foi considerado o melhor jogador, o Brasil chegou ao título a praticar um futebol demasiado pragmático, Portugal foi uma vergonha, os jogos foram fraquíssimos, eu lembro-me de os ver.
Euro 2004, tudo bem, foi cá em Portugal, e isso contribuiu para a NOSSA magia. Mas vendo de fora, foi uma competição fora-de-série? A Grécia foi campeã... Uma Grécia com uma estrutura de pedra e uma eficácia defensiva/ofensiva puxada mesmo aos limites do possível. Não vi assim jogos que fiquem na memória por terem sido brilhantes. Emocionantes, sim, mas não mágicos.
Mundial 2006, foi decente, mas não brilhante. Basta dizer que a França, com uma equipa de velhotes, e a Itália a jogar um futebol demasiadamente italiano, foram os finalistas. A Alemanha, curiosamente, que jogou até bastante bem para os seus padrões (efeito Klinsmann), e com uma equipa bastante boa, foi eliminada nos últimos minutos do prolongamento pelos "assassinos" italianos.
Esperaram pelo jogo todo para no fim espetar 2 golos de rajada. Nojento.
O Euro 2008 foi fraquinho, digam o que disserem. Não vi uma única equipa brilhante. A Rússia do Hiddink esteve excelente, a Holanda tinha (e tem) uma equipa brutal sobretudo a nível de ataque, a Espanha misturou grandes jogadores com grande eficácia. Nada de especial.
Na Liga dos Campeões, a final de 2003 decidiu-se nos penalties depois de um jogo ensosso entre italianos. Em 2004, o Porto ganhou com todo o mérito, mas pronto, nada de brilhante. 2005, foi uma final emocionante e atípica, mas não fica na memória como as de dantes. 2006, Barcelona ganhou, era a melhor equipa, nada a dizer, a competição não foi por aí além. 2007, final com o tal Milan ultra-eficaz e ultra-experiente, e Inzaghi mortífero. Nada de brilhante. 2008, nada de brilhante também. Final decidida nos penalties. E a deste ano vai pelo mesmo caminho, nada de brilhante.
O Manuel José, o do Egipto e agora de Angola, uma vez disse que os maiores clubes do mundo, a nível de "mística", eram Benfica, Real Madrid, Barcelona, Ajax, Milan AC, Boca Juniors e Flamengo.
Faltam aqui alguns nomes, como Inter, Juventus, Bayern Munique, Manchester United, Liverpool ou Arsenal, só para citar alguns.

Manuel:
Numa perspectiva puramente histórica, em tamanho bruto, em passado, em conquistas, o Manuel José (não sei se essa é a ordem pela qual ele mencionou esses nomes) aponta de facto os nomes certos.
O Bayern ... o Bayern lá está, sofre do 'mal' de fazer parte de um Campeonato menos atraente e rico do que outros, do que o espanhol ou o inglês ou mesmo o italiano ... mas, em termos puramente de Clubes, o Bayern sem dúvida tem de estar nessa lista, como o Ajax obviamente, que também faz parte de um Campeonato mais 'pobre'.
Clubes mundiais, dificilmente algum superará o Flamengo.
O Flamengo em termos brutos, de massas, de historial, de passado, de conquistas (passadas e presentes) esmaga qualquer Clube europeu.
O Brasil tem 190 milhóes de habitantes, sendo que desses 190 milhões provavelmente 60% deles serão torcedores do Flamengo.
Não tem nada de objectivo este número: podem ser menos, podem ser mais. Mas sejam menos ou sejam mais o Flamengo é de longe o Clube no Mundo com mais adeptos. Soma a isso, o facto de ser um Clube vitorioso.
Na Europa a coisa é mais repartida entre 5 ou 6 emblemas.
Em termos de sucesso:
-Real Madrid.
-Milão.
-Liverpool.
-Bayern Munique.
-Ajax.
-Benfica.
A inclusäo do benfica nesta lista tem de ser feita, obrigatoriamente: 31 campeonatos nacionais e oito finais europeias.
Depois outros Clubes menos vencedores mas igualmente colossos:
-Inter.
-Manchester United.
-Barcelona.
Em termos de sucesso, em número de Taças dos Campeões Europeus, ou finais, por exemplo, são na Europa menos vitoriosos do que os da lista de cima mas, em termos históricos, em nada ficam a dever aos de cima.
Sendo que qualquer um destes 3 por exemplo em termos de massas esmaga um Ajax.
Numa combinação das 2 vertentes eu pessoalmente elaboraria a seguinte lista:
-Manchester United.
-Barcelona.
-Milan.
-Real Madrid (não gosto mas tem de cá estar).
Estes 4. Embora isto seja discutível obviamente. Como aliás as 2 listas de cima o são.
Faltam lá nomes. Escrevo sem perder muito tempo a pensar na questão.
Agora uma coisa é certa:
Nesta lista não está de certeza o Chelsea, que não tem nem passado nem presente.
Tem dinheiro, que é diferente.
Primeiro que o Chelsea estariam o Inter, a Juventus, o Liverpool, o Dortmund, o Nothingam Forrest, o Steaua, ou mesmo o CSKA de Moscovo. Ou o Benfica.
Ou não, e.
Mas claro, a partir do momento em que o Futebol hoje em dia e para as gentes mais novas é uma mistura de Ronaldo com Championship Manager e PES-2009 ... é natural que as concepções sobre o jogo surjam distorcidas e inexactas.

Miguel:
Não me lembro da ordem pela qual apontou estes clubes. De qualquer modo, e despindo totalmente todo o meu anti-benfiquismo para formular isto que vou dizer, eu nunca poria o Benfica numa lista de 7 maiores clubes do mundo. À frente do Benfica, mesmo conjugando todos esses factores que referiste, estão vários emblemas. Até o próprio FCPorto tem mais títulos internacionais que o Benfica, embora menos finais (se não contarmos, claro, com os jogos únicos de decisão de Supertaças Europeias e Taças Intercontinentais). Quanto aos nacionais, para lá caminha, exceptuando a Taça de Portugal, onde o domínio do Benfica a nível de números ainda é realmente profundo.
Sobre isso do Bayern e Ajax, eu estabeleço uma certa comparação entre os dois clubes. Ambos pertencem a campeonatos que não os três que estão acima de todos os outros, dominam internamente (a nível histórico), são hoje em dia conjuntos fortes e respeitados - e penso que o serão eternamente - e até relativamente a conquistas de taças europeias os números são muito semelhantes. Ambos são colossos.
Do Flamengo... Bom, é verdade que esses números são legítimos, mas não sei até que ponto o Flamengo seria grande na Europa e teria o mesmo prestígio de outros nomes europeus, com conquistas internacionais, se existisse de facto na Europa. Como não existe e nem sequer faz sentido comparar a realidade brasileira com a europeia, totalmente distintas que elas são, e como é inútil estar aqui a dizer "se eles jogassem cá, ganhavam X e tinham prestígio Y", não me atrevo a atribuir mais ou menos valor ao Flamengo, ou ao Santos, ou ao Corinthians, ou ao Palmeiras e por aí fora. E o mesmo aplico aos argentinos, River Plate, Boca Juniors, Estudiantes, Independiente, Racing Avellaneda, etc. Até porque a base adepta destes clubes poderia ser totalmente diferente da que existe na realidade dos seus países, e portanto se calhar nem existiriam da forma como existem se fossem europeus. Sinceramente, não gosto de comparar o futebol europeu com o sul-americano, prefiro separar os dois julgamentos. Prefiro cingir-me ao Velho Continente. Mas é sabida, claro, a enormidade dos números do Flamengo e de outros clubes brasileiros no tocante a adeptos, por força dos também superiores números populacionais.
Deixo a minha lista, também, e também sem gastar muito tempo a pensar na questão:
-Real Madrid
-Milan AC
-Liverpool
-Bayern Munique
Mas isto é tão discutível que até fica mal fazer uma lista.
As listas são sempre injustas e imperfeitas, e até inconclusivas.

Miguel, sobre o Chelsea:
Parece haver uma certa onda pró-Chelsea, nos dias que correm... mas vocês sabem que história o Chelsea tem? O Chelsea há coisa de 7 anos nem sequer era levado a sério pelo Manchester United ou pelo Arsenal como concorrente interno. Parece o clube da moda, hoje em dia.
Não estou a criticar, atenção. Cada um identifica-se com o que se identifica, ou gosta do que gosta. Eu gosto de clubes com história. Se não tiver qualquer razão mais forte que me leve a simpatizar ou gostar de um clube ou a simpatizar com ele, o meu critério vai para a história e para os feitos de relevo a que possa ter assistido ou sobre os quais me possa ter informado. Coisas antigas e recentes. E no que diz respeito às coisas antigas, não vejo o nome do Chelsea em lado algum. Ou em muito poucos sítios, pronto.
Mas isto não tem importância, esta discussão de gostos por clubes.
Acima de tudo, o que interessa é ter gosto pela história, mas, mais ainda do que ter gosto dela, é preciso admirá-la e respeitá-la.
Viva a História.
E o Paredão.

Manuel, em resposta a um jovem adepto que é fã do Chelsea:
Mas a História e o tamanho angariam-se assim mesmo.
Não tens de pedir desculpa por gostar do Chelsea.
O Porto até aos anos 70 em Portugal não ganhava nada nem existia em termos de panorama nacional. Sporting, Benfica, Belenenses. Eram estes os grandes, e só estes.
Mas é claro, a História vai-se construindo. E 40 anos depois, em matéria de Futebol, ultrapassaram-nos e estão prestes a ultrapassar o Benfica.
O Chelsea sem dúvida que tem ganho. Ganhou campeonatos com o Mourinho, ganhou Taças com ou sem Mourinho, termina constantemente as épocas nos 3 primeiros lugares em Inglaterra e está constantemente nas meias finais da Liga dos Campeões.
Como é claro, ganha adeptos.
Porque os adeptos ganham-se desta forma: estando lá, nas decisões, nas vitórias, nas montras principais e nos momentos de decisão.
Agora, o que digo, e não é nenhuma verdade absoluta isto, é:
O Chelsea ainda precisará de mais 40 ou 50 anos para - a este ritmo - poder chegar-se perto de um Manchester, um Liverpool, um Barcelona, um Real ou um Bayern ou um Ajax.
E a partir do momento em que o Chelsea não tem ele próprio a noção (adeptos, presidente e plantel) da valia histórica que lhe falta na comparação com outros Clubes europeus então aí ... enfim, é que nem simpatia geram.
Pelo menos a minha, e imagino a de outros adeptos como eu.
O Ballack, que enquanto jogador já foi a pelo menos 2 finais com a Alemanha em provas da Fifa, que já foi a finais de Clubes pelos Clubes porque já passou, se ele - que já mostrou que não tem - tivesse o mínimo de senso das coisas nunca se permitira dizer o que disse sobre o Barcelona.
Isto diz tudo sobre a forma como o Chelsea se encara e encara o futebol europeu. Como se tudo lhes fosse devido, pelo facto de serem os que mais investem e pelo facto de reunirem os melhores defesas, os melhores médios e os melhores avançados.
As coisas não são assim.
Tem de haver noção da realidade histórica dos Clubes. E havendo-a, o Chelsea só tem é que fazer uma vénia ao Barcelona quando o Barcelona visitar Stamford Bridge, porque o Barcelona não existe há 7 meses, nem 7 anos, nem sequer 70. Existe há mais de 100 e, desde que nasceu que assumiu-se logo como um colosso, em Espanha, na Europa e no Mundo.
E fê-lo num tempo em que o dinheiro pouco ou nada valia.
Fê-lo num tempo em que as coisas faziam-se com amor, com paixão, com trabalho.
Por tudo isto, o Chelsea ao pé do Barcelona, é zero.
Daqui a 50 anos podem ser semelhantes, mas hoje, um é tudo ou quase tudo e o outro é meramente um aspirante a ser.
Um projecto, nada mais.

Miguel:
Dizer “o FC Porto nos anos 60 e 70 não ganhava nada” é correcto, mas não seria correcto dizer "até aos anos 70 nunca ganhou nada". O FC Porto é o clube mais antigo de entre os chamados “grandes” de Portugal, o que ganhou a primeira edição da I Liga, e o que ganhou as duas primeiras edições do Campeonato Nacional da 1ª Divisão. O grande problema do FC Porto, ao nível do seu palmarés, foi o facto de ter passado 19 anos a ver navios, enquanto o Benfica somou uns 14 títulos nesse período.
O FC Porto foi à sua primeira final europeia em 1984. Venceu a primeira em 1987 e levantou mais duas taças internacionais no ano seguinte. O Chelsea sim, é um "novo rico", mas o FC Porto levantou taças nos anos 30, levantou-as nos anos 50, levantou-as nos anos 80 e levanta-as nos anos que correm, e - espero eu - levantá-las-á no futuro.José Maria Pedroto

Manuel:
Ganhava-as com raridade.
O peso do Porto construiu-se de há quase 30 anos para cá, sob a égide de Pinto da Costa.
E só a partir daí.
"Só a partir daí" serve meramente para distinguir os espaços temporais. Até porque como já disse muitas vezes, para mim, as conquistas europeias do Porto têm muito mais grau de dificuldade e valor do que as do benfica, pelos futebóis serem diferentes, por hoje em dia o dinheiro contar muito. E mesmo antes de 2003, mesmo sem a LC do Mourinho eu já considerava o curriculo europeu do Porto superior ao do Benfica, em termos de vitórias. Vitórias.
Agora ainda mais, mesmo em termos absolutos as conquistas europeias do FC Porto são em maior número do que as dos tristes.
Em termos de 'arrasto no tempo' e presenças nas grandes decisões ... oito finais é muita final. E ate aos anos 90 esteve lá quase sempre. São épocas diferentes. Fosse o futebol hoje como era há 50 anos e o Porto porventura iria a 5 meias finais e outras tantas finais por década mas, enfim, hoje em dia é utópico isso, para Clubes de Portugal.

Miguel:
O Porto como força de peso, sim. Como candidato crónico ao título, ao nível do Sporting e Benfica, sim, claramente. Só estava a chamar atenção para o facto de o FC Porto ter o seu nome inscrito em conquistas alcançadas há muito, muito tempo. Perdeu foi uma época dourada para muitos, em que o Benfica brilhou como nunca mais alguma vez brilhará. Antes de o Benfica ter nascido (aparentemente até sobre o ano de fundação mentem), já o FC Porto existia há uma década, e jamais mudou o seu nome.
Mas claro que as conquistas de uns não retiram o mérito e o valor às conquistas dos outros. No entanto, também te chamo a atenção para o facto de o FC Porto já ter efectivamente ultrapassado o Benfica em palmarés futebolístico, isto se contarmos todos os escalões. Aí, já ultrapassou. Na totalidade das contas do futebol, já ultrapassou. Mas não vamos transformar isto numa discussão de grandiosidades Porto - Benfica, nem nada que se pareça.
Viva o futebol, mas é.

Manuel:
O Barcelona terminou a época como campeão europeu.
Na Liga Espanhola venceu 27 dos 37 jogos.
Marcou 104 golos.
Tem um goal-average positivo de 72 golos, o que é verdadeiramente escandaloso, no bom sentido.
O Eto´o, o Henry e o Messi, só estes 3 somados, têm mais golos marcados do que qualquer outra equipa europeia. Qualquer. Do que todas, seja ela qual for.
O Barcelona alinha com 5 ou 6 catalães de início, em cada jogo. Pelo menos:
Valdez. Puyol. Pique. Xavi. Iniesta. E podem acrescentar o Messi, que está em Barcelona desde os 11 anos e o Krkic, que sendo catalão nascido na Catalunha e não sendo titular é frequentemente utilizado.
O treinador do Barcelona é um homem da casa, Pepe Guardiola.
Catalão. Ex-jogador do Barcelona. Adepto do Cube de facto.
Perante isto, o Chelsea é pouco mais do que um Clube pacato.
Desinteressante. Sem sal.
O Futebol não é nenhum CM ... existe uma História, por trás de cada Clube.
Não são somente uma soma de nomes.

Miguel:
Só posso dizer que subscrevo tudo. Um dos nomes que se pode dar àquilo que o Chelsea tem desenrolado desde que chegou lá o magnata russo é concorrência desleal. Praticamente demonstraram interesse em todos os jogadores de topo, novos ou estabelecidos, que foram surgindo nos últimos anos, inflaccionando o preço de muitos e comprando vários, muitas das vezes sem qualquer critério. O Real Madrid tem um procedimento semelhante, mas por outro lado tem um peso histórico que lhe permite fazer isso com alguma propriedade. O Manchester Utd., o Barcelona, o Bayern Munique e outros são clubes endinheirados, mas compram com critério e tentam sempre manter um mínimo de nacionais nas suas fileiras, e não piscam o olho a tudo o que mexe.
Quanto ao Barcelona ser o maior ou melhor, depende do critério. Não concordo que o número total de títulos em todas as modalidades e em todos os escalões seja o único critério. Mas é, sem dúvida alguma, um clube especial, e representa muito mais do que um clube. Representa uma região, e chega inclusivamente a representar o anti-fascismo. É que se (e isto a um nível relativo) se o benfica foi o clube do regime, o Real Madrid foi o clube do regime de Franco de forma assumida, enquanto o Barcelona simbolizou sempre a face contrária a isso. Uma espécie de Mal VS Bem. O Barcelona representa um super-clube, representa uma cidade maravilhosa e uma região, a Catalunha, muito dona de si. A uma escala muito menor, pode-se comparar o simbolismo do FC Porto com o do Barcelona. Mas repito, antes que me ataquem, que isto é evidentemente a uma escala muito menor.
Sobre o que se passou no jogo, todos têm o direito de errar. Fosse o Barcelona na pele do Chelsea e qualquer um dos jogadores teria feito as "tristes figuras" que fizeram o Ballack e outros. O futebol é mesmo assim. Quando somos prejudicados, choramos baba e ranho, quando somos beneficiados assobiamos para o lado. De qualquer forma, o Barcelona, por tudo o que fez esta época, merece estar na final. O Barcelona é sem qualquer sombra de dúvida uma das duas melhores equipas da Europa, por isso é justo que lá esteja. Muito mais do que o Chelsea.
Já agora, subscrevo quando dizes que o Chelsea nunca foi grande. Aliás, eu próprio já o tinha afirmado há tempos. Há clubes ingleses para além dos outros 3 que compõem os actuais "Big Four" com muito mais história, palmarés e tradição que o Chelsea.
Mas o problema do Chelsea é muito mais abrangente. O futebol é, hoje em dia, um negócio, mais do que um desporto ou um espectáculo, e tenho muita pena pelas equipas alemãs, e não é preciso ser doutorado em futebol para se concordar com o Rummenigge quando ele diz que os clubes alemães não têm pura e simplesmente argumentos para lutar de igual para igual com os outros. Tenho saudades de ver equipas alemãs repletas de alemães que suavam o jogo todo e acabavam quase sempre por prevalecer contra onzes teoricamente mais bem apetrechados a nível de valores individuais.

Manuel, ainda sobre o Chelsea:
Ah, eu gosto do Hiddink ... é provavelmente dos 3 melhores do Mundo e o melhor da sua geração mas, ele não tem muita moral para dizer, como disse:
"Já têm a vossa final não inglesa" ... quando no Mundial da Coreia e do Japão ele e a Coreia foram escandalosamente levados ao colo até à meia-final. Mas seja como for é óbvio que ficou 1 penalty por marcar, sem dúvida isso.
O que digo também - e antes disso - é que o Chelsea não devia sequer estar a participar naquilo, uma vez que vive completamente aparte de quase todos os outros Clubes no Mundo.
O Chelsea gasta milhões e milhões todos os anos:
Todos os centrais.
Todos os médios.
Todos os avançados.
Mas tudo tudo tudo.
Tudo naquela equipa à excepção do John Terry é comprado.
Não jogam com 1 único jogador do "Chelsea" ou, pago pelo "Chelsea Football Club".
Já o Barcelona do 11 inicial tem pelo menos 5 jogadores da sua cantera e um número considerável de catalães nesse mesmo 11.
Quero com isto dizer que parece-me a mim que há evidente concorrência desleal por parte do Chelsea relativamente a um Clube como o Barcelona, ou um Manchester, ou um Arsenal.
Já não vou a Clubes italianos e alemães porque nem é preciso.
Mas sobre isso o Rummenigge, Presidente do Bayern, já se lamentou pelo facto de ser altamente improvável a uma equipa alemã estar numa final europeia nos próximos 15 anos, e porquê?
Porque pelas actuais "regras do jogo" há 3 ou 4 Clubes que competem com ferramentas que nenhum outro tem.
O exemplo maior: Chelsea.
Em primeiro, segundo, terceiro e todos os lugares.
Não sei sinceramente como é que pode haver um único adepto de Futebol que não seja "Chelskiano" ... a gostar do Chelsea.
Fosse aquilo um jogo de computador e muito bem: que comprassem 30 estrelas e pagassem milhões de biliões e todos eles. Agora, sendo uma coisa que simplesmente estraga o Futebol, acho estranho torcer-se por um Clube que age assim.
No caso do Chelsea: qualquer "roubo" não chega nem de perto nem de longe ao roubo que eles fazem todos os anos, todos os Verões, época após época.
É por essa razão que detesto Clubes com o Chelsea ou o Real Madrid.
São Clubes "falsos", porque ano após ano praticam concorrência desleal.
O Chelsea não se rege por qualquer regra. É um Clube sem qualquer expressão em Inglaterra ou sequer em Londres e, nos últimos 15 anos aparece na ribalta por via da imensa fortuna de um bilionário russo.
Isto como é óbvio não tem nenhum mal mas, passa a ter quando se transforma em concorrência desleal para todos os outros Clubes, exceptuando possivelmente o Real Madrid que, é capaz dos mesmos ou piores disparates que o Chelsea.
Talvez não em quantidade, mas em "qualidade". Qualidade do disparate.
O Chelsea trata a coisa como um jogo: vê, deseja, escolhe, paga.
Qualquer jogador que queiram servem-se do dinheiro para o adquirir.
Não importa que o Clube em si não tenha os fundos ou as receitas para os ter ou para lhes pagar os ordenados, porque claro está: quem paga é o russo.
É o dinheiro dele que faz aquela casa estar de pé. Não há tecto salarial, têm para cima de uma quinzena de jogadores dos mais bem pagos do Mundo, e todos os anos fazem mais do mesmo.
Com isto desvirtuam as regras do jogo (porque outros Clubes há que não podem recorrer a fortunas bilionárias para se governarem) e pior: desvirtuam a sanidade da competição, inflacionando os já altíssimos salários pagos pela modalidade e inflacionando as transferências época após época.
Chelsea, Real Madrid, Manchester City.
Estes 3 Clubes não deveriam participar nas provas europeias.
Motivo? Concorrência desleal. Pura e simples.
Para salvaguarda da modalidade e da competição.
Mas isto é utópico, infelizmente.
E no fim quem vai pagar é o Futebol.
Um dia ao acordarem perguntarão "onde estão os adeptos?".
E só aí vão perceber os males feitos nos últimos 20 anos, males que têm como expoente máximo as práticas de Clubes como o Chelsea.
Ps: "Roubo", roubo: Ashley Cole.
Ou: Steven Gerrard. Este só não consumado porque o próprio recusou a transferência.
Não gosto do Arsene Wenger mas subscrevo-o quando afirma que clubes com o Chelsea são batoteiros.
E o Arsenal ou o Manchester (embora o Manchester tenha algumas nuances) são um bom exemplo. De como se pode gerir a coisa com seriedade.
O Chelsea não é nada.
O West Ham e o Aston Villa afundam o Chelsea em termos de massa adepta.

Ainda Manuel:
Sobre o magnífico Barcelona de Guardiola, ainda antes deste se sagrar campeão europeu em Roma: ver o Guardiola no banco faz em tudo lembrar o mágico Cruijff.
Expressão corporal, ansiedade mas sem medo, constante gesticular e falar para dentro de campo, serenidade antes e após os jogos. Tudo.
O Barcelona é mágico. E quando liderado por gente mágica, a magia acontece naturalmente.
A senhora "Ironia" é por (bastantes) vezes maldosa.
Após o jogo de Barcelona, jogo do qual alguns jogadores do Barça - mas não o Guardiola - se queixaram do espírito ultra-defensivo empregue pelo Chelsea e, de um penalty que ficou por marcar sobre o Eto´o, o Ballack - que se tem em muito boa conta mas que para mim não é mais nem melhor que 10 outros médios iguais ou superiores a ele - deu uma entrevista de 2 páginas num tom verdadeiramente idiota, arrogante, onde entre outras coisas disse que "o Barcelona não é nada de especial" e "vamos fazê-los pagar pelo choro do primeiro jogo".
Dado isto, foi engraçado vê-lo há pouco nos últimos minutos a correr atrás do árbitro feito amélia a chorar por uma mão dum jogador do Barcelona dentro da área.
Independentemente de ter sido ou não mão, parece afinal que quem ficou no fim a chorar não foi o Barcelona, como previu Ballack.
Já o primeiro penalty, também de uma mão, do Piqué, é de facto penalty.
Mas não importa: Barça é Barça.
E a final será a desejada.
E que final será.